<font color=990000>Revolução e contra-revolução na América Latina</font>
O governo de Lula da Silva no Brasil, a ALCA e a intervenção dos Estados Unidos na América Latina foram as questões discutidas num dos mais participados debates em Serpa.
«Revolução e contra-revolução na América Latina» foi o tema do primeiro debate realizado na sala 2 do Cine-teatro de Serpa, contando com a participação de especialistas nascidos no continente.
Ademar Bogo, representante do Movimento dos Sem-Terra do Brasil, afirmou que o mundo se divide entre os que trabalham e os que não trabalham, os que comem e os que não comem, os revolucionários e os contra-revolucionários. «Hoje temos um operário na Presidência da República, mas isso não significa que tenha sido feita uma transformação profunda. Não chegámos ao poder, mas sim ao governo. O facto de um operário ir para o governo impede a luta, porque o povo não vai lutar contra um companheiro. Fernando Henrique Cardoso não conseguiu fazer as reformas que agora Lula da Silva faz, porque antes o povo resistia e agora confia», disse.
O dirigente do MST defendeu que existem duas vias contra-revolucionárias: a do capital e as suas formas de dominação; e as do reformismo e oportunismo, com origem na esquerda. «As consequências são as dificuldades que vivemos hoje. Os nossos inimigos são invisíveis, por isso mais difíceis de combater», referiu.
Bogo aprofundou as suas concepções de contra-revolução aplicando-as à actual realidade brasileira: «As forças de esquerda que deviam pensar a revolução perderam o compasso da marcha, acomodaram-se à destruição das organizações populares por parte da direita, caíram no reformismo e, chegando ao poder, já estão adaptadas ao capitalismo.»
O sem-terra apontou três limitações para a revolução no Brasil. A primeira é a falta de orientação política dos movimentos: «Os partidos eliminaram a preparação ideológica das sua militância e a reflexão avançada em torno das suas ideias.» A falta de ligação entre as diversas lutas constitui a segunda causa: «A luta pela terra não resolve por si só o problema, porque o inimigo já não é o latifundiário mas sim as empresas com sede no estrangeiro, por isso há que lutar pela independência do Brasil.»
A terceira limitação é o dilema da espontaneidade e da consciência, ou seja, quando a população se revolta não existe uma força organizada para tomar o poder. Foi o que aconteceu na Argentina e no Equador. «É um passo atrás e um desperdício de esforço dos movimentos sociais. Não há um desenvolvimento da consciência política e não se cria unidade de classe», declarou.
A ALCA
Outro brasileiro, César Benjamin, politólogo e escritor, lembrou que quando Lula da Silva chegou ao poder tinha uma posição muito favorável para fazer reformas, ao contrário do que normalmente acontece aos governos de esquerda: foi eleito com 65 por cento dos votos; contava com o apoio das forças armadas, da Igreja e de países estrangeiros; o PT está em maioria no poder legislativo; o défice externo diminuiu; e a sociedade demonstrava uma grande expectativa.
«O PT sofreu uma mudança súbita. Não há medidas de esquerda nem de combate à corrupção, mudando de lado sem conseguir nenhuma conquista para a massa trabalhadora. É um fracasso vergonhoso, de quem foi derrotado sem lutar. Quanto mais esta política se aprofunda, mais apoio popular perde, mais a direita se prepara e mais difícil é recuperar», afirmou.
As consequências da ALCA para os países da América Latina foram abordadas por Oscar Azocar, director do Instituto de Ciências Alejandro Lipschutz, do Chile. «Os EUA não procuram o livre comércio com a ALCA. O que buscam é assegurar na sua retaguarda estratégia a garantia e a protecção a todo o evento da livre circulação e a protecção do capital transnacional norte-americano, procuram apoderar-se do coração andino, especialmente da bacia amazónica, para consolidar o controlo geopolítico e militar de vitais recursos da biodiversidade e importantes recursos naturais e ambientais», sustentou.
«Com o pretexto da luta contra o narcotráfico, os EUA querem militarizar o continente. Não hesitam em impulsionar o separatismo de regiões geográficas ricas em recursos, redefinindo Estados formalmente constituídos, para benefício das transnacionais e dos seus aliados locais; e em promover a prédica chauvinista, como na Bolívia, Chile e Peru, incentivando a “guerra entre países” em substituição da “guerra de classes”», declarou.
Arturo Huerta, economista e o professor da Universidade Autónoma do México, defendeu que uma das formas de alcançar condições de crescimento económico sustentado é a recuperação por parte do Estado da regulação da actividade económica e a renogociação da dívida externa.
Ademar Bogo, representante do Movimento dos Sem-Terra do Brasil, afirmou que o mundo se divide entre os que trabalham e os que não trabalham, os que comem e os que não comem, os revolucionários e os contra-revolucionários. «Hoje temos um operário na Presidência da República, mas isso não significa que tenha sido feita uma transformação profunda. Não chegámos ao poder, mas sim ao governo. O facto de um operário ir para o governo impede a luta, porque o povo não vai lutar contra um companheiro. Fernando Henrique Cardoso não conseguiu fazer as reformas que agora Lula da Silva faz, porque antes o povo resistia e agora confia», disse.
O dirigente do MST defendeu que existem duas vias contra-revolucionárias: a do capital e as suas formas de dominação; e as do reformismo e oportunismo, com origem na esquerda. «As consequências são as dificuldades que vivemos hoje. Os nossos inimigos são invisíveis, por isso mais difíceis de combater», referiu.
Bogo aprofundou as suas concepções de contra-revolução aplicando-as à actual realidade brasileira: «As forças de esquerda que deviam pensar a revolução perderam o compasso da marcha, acomodaram-se à destruição das organizações populares por parte da direita, caíram no reformismo e, chegando ao poder, já estão adaptadas ao capitalismo.»
O sem-terra apontou três limitações para a revolução no Brasil. A primeira é a falta de orientação política dos movimentos: «Os partidos eliminaram a preparação ideológica das sua militância e a reflexão avançada em torno das suas ideias.» A falta de ligação entre as diversas lutas constitui a segunda causa: «A luta pela terra não resolve por si só o problema, porque o inimigo já não é o latifundiário mas sim as empresas com sede no estrangeiro, por isso há que lutar pela independência do Brasil.»
A terceira limitação é o dilema da espontaneidade e da consciência, ou seja, quando a população se revolta não existe uma força organizada para tomar o poder. Foi o que aconteceu na Argentina e no Equador. «É um passo atrás e um desperdício de esforço dos movimentos sociais. Não há um desenvolvimento da consciência política e não se cria unidade de classe», declarou.
A ALCA
Outro brasileiro, César Benjamin, politólogo e escritor, lembrou que quando Lula da Silva chegou ao poder tinha uma posição muito favorável para fazer reformas, ao contrário do que normalmente acontece aos governos de esquerda: foi eleito com 65 por cento dos votos; contava com o apoio das forças armadas, da Igreja e de países estrangeiros; o PT está em maioria no poder legislativo; o défice externo diminuiu; e a sociedade demonstrava uma grande expectativa.
«O PT sofreu uma mudança súbita. Não há medidas de esquerda nem de combate à corrupção, mudando de lado sem conseguir nenhuma conquista para a massa trabalhadora. É um fracasso vergonhoso, de quem foi derrotado sem lutar. Quanto mais esta política se aprofunda, mais apoio popular perde, mais a direita se prepara e mais difícil é recuperar», afirmou.
As consequências da ALCA para os países da América Latina foram abordadas por Oscar Azocar, director do Instituto de Ciências Alejandro Lipschutz, do Chile. «Os EUA não procuram o livre comércio com a ALCA. O que buscam é assegurar na sua retaguarda estratégia a garantia e a protecção a todo o evento da livre circulação e a protecção do capital transnacional norte-americano, procuram apoderar-se do coração andino, especialmente da bacia amazónica, para consolidar o controlo geopolítico e militar de vitais recursos da biodiversidade e importantes recursos naturais e ambientais», sustentou.
«Com o pretexto da luta contra o narcotráfico, os EUA querem militarizar o continente. Não hesitam em impulsionar o separatismo de regiões geográficas ricas em recursos, redefinindo Estados formalmente constituídos, para benefício das transnacionais e dos seus aliados locais; e em promover a prédica chauvinista, como na Bolívia, Chile e Peru, incentivando a “guerra entre países” em substituição da “guerra de classes”», declarou.
Arturo Huerta, economista e o professor da Universidade Autónoma do México, defendeu que uma das formas de alcançar condições de crescimento económico sustentado é a recuperação por parte do Estado da regulação da actividade económica e a renogociação da dívida externa.